sábado, 18 de dezembro de 2010

Aprendam com a história senhores governantes

A propósito de notícias surgidas na imprensa sobre as compensações que os médicos deveriam dar ao estado em caso de saída para o sector privado, fico a pensar, porque será que os médicos terão de o fazer?
Para além da falsa ideia (criada sabe-se lá por quem) de que os médicos terminam a sua especialidade e vão trabalhar para o sector privado (como sempre não sei de nenhum estudo que suporte esta ideia), fica a pergunta, e porque será que o estado não deve suportar a formação dos seus profissionais?
Será que os advogados, engenheiros, arquitectos e todos os outros cidadãos que recebem formação paga pelo estado, deveriam trabalhar para o estado quando terminassem os seus estudos para compensar o que foi investido pelo estado na sua formação? Quantos anos deveriam trabalhar para o estado quem termina a o ensino secundário? E o primário?
Os médicos são profissionais, que têm uma responsabilidade social imensa, são pessoas que dedicam toda uma vida aos outros e que são miseravelmente compensados em termos monetários por este mesmo estado após a conclusão dos seus cursos. São profissionais que após terminarem as suas especializações (que têm a duração de 4 a 6 anos) não as vêm equiparadas a formação universitária, não vendo assim desta forma reconhecido, em termos remuneratórios, todo o esforço investido na sua formação.
E depois vêm os senhores que governam este País dizer que os médicos têm de compensar o estado pela formação "oferecida" pelo estado.
Porque não pedem este mesmo retorno aos juízes e aos professores universitários? Será que existem à luz da nossa Constituição cidadãos de 1ª e de 2ª?
Porque será que os médicos continuam a incomodar de uma forma tão incompreensível o poder político e os média que lhes dão cobertura?
Porque será que o poder político não se preocupa em dar uma carreira médica consistente e única a todos os médicos (não podemos esquecer que os médicos que trabalham nos hospitais EPE e nos hospitais particulares, ainda não têm uma carreira médica que seja equiparada à carreira dos médicos que trabalham na função pública, não esquecendo também que muitos destes médicos não tiveram opção ao fazer esta escolha profissional, por não poderem ingressar directamente na função pública e não esquecendo que estes clínicos têm por vezes curricula tão ou mais consistentes que os profissionais que trabalham no sector público)?
Será que o governo se esquece que quem suporta (sem receber um único cêntimo por isso) a formação dos internos são colegas altamente qualificados (empenhando grande parte do seu tempo)? Médicos estes que por amor à medicina e por respeito aos doentes o continuam a fazer. Quanto existem países (que defendem modelos económicos iguais aos deste governo) onde esta formação é muitíssimo bem paga a quem a fornece.
Será que o governo continuando no seu retrocesso civilizacional não entende que estes profissionais depois de formados (especializados) são uma mais valia enorme não só para as instituições onde trabalham mas para todo o país, fornecendo uma enorme mais-valia, não só em termos económicos, mas como imagem de País Desenvolvido no estrangeiro, onde estes profissionais gozam de um enorme prestígio (que poderia ainda ser maior, se houvesse uma verdadeira política de investigação nos hospitais) entre os seus pares.
Há pois a meu ver, ao contrário do que é proposto, continuar a investir na formação de todos os cidadãos, entre os quais se encontram os médicos, e nas suas carreiras para bem dos doentes, dos médicos, do país.
Não continuem pois a tentar esconder o sol com a peneira e entenda-se de uma vez por todas que o atraso em que este país se encontra se deve, entre outras coisas, exactamente à grande falta de formação a que alguns regimes, dos quais infelizmente temos uma triste memória,  votaram este Povo (que somos nós como um todo) durante tantos anos para benefício de alguns.
Será que não aprendemos nada com a história?