terça-feira, 16 de dezembro de 2008

No rescaldo, em tempo de crise

Muito foi dito e escrito nos últimos dias por todos sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo e sobre a adopção de crianças por casais do mesmo sexo (homossexuais que temos que chamar as coisas pelo nome próprio).
Mas do que estivemos nós todos a falar?
Estivemos a falar sobre se o casamento é ou não uma instituição que pela sua génese é unicamente heterossexual.
Estivemos a falar sobre se as crianças deveriam crescer e desenvolver-se ou não exclusivamente por casais que tivessem um modelo masculino e outro feminino.
Estivemos a falar do momento adequado ou não para debater estes temas.
Falámos, falámos, falámos…
E se isso já foi muito bom (dirão alguns) para este país onde cada vez se fala mais e se acerta menos a verdade é que no final e em termos práticos ficou tudo na mesma (como muito boa gente pretendia).
Perguntarão vocês, mas para que vens tu de novo falar numa coisa que já está enterrada?
E quando nós temos assuntos tão mais importantes na nossa vida para resolver.
Está aí uma crise internacional e nós temos que sair disto com urgência.
Pois esta crise, não é mais que uma crise do sistema, como já houveram outras que como vocês sabem sempre foram ultrapassadas.
A pergunta que fica é: À custa do sacrifício do suor e das lágrimas de quem, é que nós as conseguimos ultrapassar?
Pensem por favor e conscientemente respondam, de quem?
Quem é que tem de contrair ainda mais as suas parcas economias?
Todos nós, os menos favorecidos, tenhamos filhos ou não (mas com filhos em idade escolar a coisa piora), vivamos com um homem ou uma mulher.
Mas não é fácil sentir a injustiça de trabalhar todos os dias, afincadamente, muitas horas (ou nem ter a oportunidade de o fazer por não conseguir arranjar emprego), e saber que não trazemos para casa o suficiente para as nossas necessidades básicas.
Claro que é fácil para os políticos que têm com certeza muita responsabilidade nesta crise (e que não a sentem nem por perto), venham dizer-nos que não têm tempo agora de resolver um problema “menor” como é o do reconhecer que nós somos todos pessoas iguais, com direitos iguais.
O que os “nossos” políticos (vá lá que não todos), eleitos com os nossos votos acabaram de dizer, no último dia 10 de Outubro (que provavelmente vai ficar conhecido como o dia da segregação), é que entre os filhos e filhas de Portugal sejam pobres, empregados, ricos, jovens, desempregados, velhos, pretos, analfabetos, brancos, gordos, ciganos, magros ou letrados, entre todos, há pessoas diferentes. E são diferentes porque têm direitos diferentes, com responsabilidades e obrigações iguais.
Pois é bom que estes senhores que negaram mais uma vez aos cidadãos do seu país a possibilidade de serem todos iguais em direitos e deveres, e deixaram de o fazer mais uma vez. É bom, que não venham dizer mais tarde, se alguma vez (mesmo que seja moralmente) tiverem que responder pelo sofrimento de milhões de concidadãos seus, que não são responsáveis de nada tal como não são responsáveis pela crise que nos assola.
É bom que todos aceitemos de vez que apesar de sermos todos diferentes, vivemos todos no mesmo país e que não vamos ser mais felizes se ao nosso lado viver alguém que está infeliz, e a quem possamos ter estendido a mão e não o tenhamos feito. Não podemos continuar a pensar que temos alguma superioridade moral sobre quem não tem a mesma orientação sexual que nós, porque estamos a errar. Como é que aceitamos ter responsáveis políticos que dizem ao seu País e aos seus eleitores que são melhores que os outros só porque não vivem com pessoas do mesmo sexo? Como será que eles vão explicar aos seus familiares, amigos, conhecidos o seu voto? Será que alguma vez admitirão que votaram por medo a que lhes fosse retirada a imunidade sexual?

A.Barra

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